sábado, 27 de dezembro de 2008

Sem espaço para os homens

Há dois anos e meio desacreditei
Fizeram-me, com potência, desacreditar
Se chega alguém gentil e sorridente
Trato logo de correr
Enfio-me no fundo de mim e respiro fundo
prefiro a solidão
os livros, os amigos
o filho
Trato logo de encarar um pote de pipocas
um gole de coca-cola
o trânsito as seis da tarde
Também´faz dois anos e meio
que encontrei algum sentido para estar
chegou em mim um abraço colorido
um sorriso de menino
impossível não vibrar
Entendi a amizade
a família de verdade
e quem devia amar

2009

Que venha!
Novo e limpo.
Que venha!
Com casa nova e armários embutidos
pra gente enfiar tudo aquilo que não merece estar a mostra.
Que venha!
Pra dois.
Sem espaço pra mais ninguém.
Que venha!
Cheio de trabalho, de leituras, de amigos novos.
Que venha!
Com novos tombos,
mas que demorem.
Que venha!
Agora estou preparada.

domingo, 21 de dezembro de 2008


Sou mãe que quer criar um filho criativo

sem rubores

sem conceitos prévios das coisas tolas da vida, quero filho homem de cabelos longos

e se quiser tocar algum instrumento

que seja!

que seja uma guitarra, um cajón

nada de cabelos "a la mauricio"

Prefiro os garotos barulhentos

aos silenciosos infelizes

causados pelos pais algozes

Prefiro meninos sinceros

que lavam pratos tal como as meninas

Quero criar filho homem educado

que abra a porta as meninas

que não se amedronte por chorar

que saiba os limites de ser homem

Quero criar filho libertário

nada de solitário!

não quero machistas perto de mim



domingo, 7 de dezembro de 2008

Ribeirão Preto




um momento, o momento da mudança.
Parte de algo em mim se parte e fim.
Mudarei de todo o jeito. Mudarei de cidade, e parte de mim quer.
Parte de mim " quer não"

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

De tempos pra cá assombra-me o medo de não ter pra onde ir, em que acreditar, o medo de jamais ter um colo pra repousar, idéias pra defender, coletivos pra estar, espaços pra abrir. Ando distante do porvir, mas o presente faz-se tão potente, quase esmagador. As contas explodindo ao redor, a casa cada vez menor, o ar sai, fico muda, asfixiada, dentro da minha própria casa.
Fico triste, quase todo o dia, quase todo o tempo. Triste porque quem eu sou não me basta e sinto-me culpada por não bastar-me ser quem sou. Queria o mundo. Viajar ao redor do mundo, estar em lugares outros, com pessoas outras ou as mesmas daqui.
Não quero casar, quero sentir vontade de amar de novo. Não quero dormir, quero sonhar todos aqueles sonhos de antes, não quero uma casa, quero um lar, um lugar pra estar, pra ser acolhida, amada e amar.
Não quero produtos, resultados, quero processos intensos, significativos, tocantes que me movam daqui, do lugar em que estou.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Beijos e tapas

Luan joga beijos ao ar. beija tudo. Pernas, mãos, bichos de pelúcia. Beija até o chão, a colher, o macarrão. Luan gosta deveras de beijar, é o seu jeito de dizer " te amo". Luan beija e bate, difícil educar crianças. Como fazê-los parar? Não de beijar, mas de bater. Às vezes chega agressivo, quer até morder. Suspiro. Com um ano e oito meses o que fazer?
Dias atrás começou a dizer "oi". Ontem passou a dizer "pé". Vários dentes na boca e a ainda não tem chulé. Sorvete tomou na praia, mas não se lambuzou. Às vezes olha pra mim de um jeito que atravessa a minha alma e eu fico morrendo de medo de decepcioná-lo, magoá-lo, fazê-lo chorar.
Fico brava também, mas um segundo depois me arrependo e beijo seu corpo todo, lembro-me dele quando nasceu, da cor dos seus olhos, da primeira vez que sentou, os primeiros passos e já não tenho vontade de chorar. Sorrir basta.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Um ano e oito meses depois


Faz tempo que não me encontro com o Tempo. Falta tempo pra narrar. Tempos da Morte da narrativa. Com um ano e três meses andou, com um ano e seis meses falou. Primeiro titia. A primeira palavra: titia. Palavra completa, com todas as sílabas...antes disso: papá ( para comida), dá ( para tudo). Depois mamãe, e agora repete essa palavra de forma incansável correndo pela casa. Tantas vezes tentei ensinar-lhe a jogar beijos, fazer carinhos. Aliás, desde os 12 meses tento ensiná-lo a dar "tchau". Só com um ano e seis, sete meses que ele passou a abraçar, beijar, dizer, correr. Como é bonito vê-lo fazer tudo ao mesmo tempo. Mesmo quando falta tempo o observo vivendo.

Ontem, dia 29 de janeiro, cortei-he os cachos dourados que sobraram na cabeça. Após uma queda absurda dos cabelos, tive que fazê-lo. Lembrei-me de um conto de Mario de Andrade " Nos tempos da camisolinha". Mas, no caso, quem chorou fui eu.