sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Andarilho comedor de frutas


O meu pequeno começou a andar, precisamente no dia 14 de agosto de 2007. Primeiro passos pequenos, trançados, e que invariavelmente levavam-no ao chão. Pouco a pouco foi ficando apressado e chegou ao ponto do desajeitado. Dias depois já corria, caía, levantava, sorria.
Subindo escadas, abrindo gavetas, fazendo caretas e agora, pasmem: roendo maçãs. Inteiras, gigantes, vermelhas.

domingo, 12 de agosto de 2007

Morrer de bem com a vida

"Aqui descansa uma pessoa muito amada. Nasceu há muito tempo em algum lugar bonito,entre os mais bonitos lugares que há. Teve infância feliz, mas também teve dissabores, como qualquer outra pessoa em qualquer bonito ou feio lugar do mundo. Teve família também , por que não? embora às vezes preferisse não tê-la. Subiu em muros, caiu de penhascos, sobreviveu as maiores catástrofes das quais se tem notícia. Viajou ao redor do mundo, pra isso usou livros e também ouviu muitas histórias. Histórias fantasiosas, Histórias reais, Histórias fatídicas. Ouviu, não viu. Não soube dizer se eram verdadeiras, mesmo assim acreditou. Cresceu e morreu, porque a morte é assim um dia aparece e ops, já foi. A gente chora, ou não, às vezes a gente fica feliz porque é fim de sofrimento, às vezes a gente não entende e queria morrer junto, às vezes a gente cala e as lágrimas não vazam, é aí que a gente chora pra dentro e quase explode.
Mas, voltando a nossa pessoa amada, ela se foi pra lugar nenhum, porque não sabemos pra qual lugar vão aqueles que se foram. Sabemos que vão longe, só isso, e aí a gente se sente só, mas passa. Aí a gente reinventa as histórias, reinventa os momentos passados com a pessoa amada e isso nos basta.Tudo fica colorido de novo.
Bem , a nossa pessoa amada foi feliz, daquele modo que os seres humanos conseguem ser felizes, dentro de uma medida exata, da qual a infelicidade faz parte, porque criança também chora, também se sente só, também tem raiva e também mente. Mas, essa pessoa amada, enfim, nasceu, cresceu, viveu um monte de coisas bobas e outras nem tão bobas que até fizeram sentido. Nossa pessoa amada, não foi famosa,mas teve o seu glamour, não ganhou milhões, mas foi esperta em um monte de coisas, não deixou filhos, mas deixou amigos e gatos e cachorros, porque ela gostava de animais.
É isso, já que é o meu papel hoje falar da pessoa amada digo que sentirei sua falta , mas não chorarei porque ás vezes a gente chora pra dentro só pra ninguém ver."

(texto escrito para o espetáculo " Era uma vez? Eu quero logo duas, três..."
Escrevi este texto com base em duas coisas: a primeira um texto do Walter Benjamim que fala sobre a morte e a segunda um enterro budista no qual estive há alguns dias. )

terça-feira, 24 de julho de 2007

Um ano e dois meses depois...



Um ano e dois meses depois ainda sinto medo. Os meus olhos derramam água salgada, às vezes sou toda mar. Mergulho em mim e vou cada vez mais fundo, às vezes fica mais escuro, às vezes não. Surge lá do fundo do nada, no meio do sem-som algo que é azul, que brilha, balança, e ali dentro no fundo d’ água dá vontade de sorrir.
Muitas vezes o estômago embrulha, outras tantas vezes não e surto de temor, porque sou feita de papel presente de lojas de um real. Parto ao meio, parto frágil, não seguro o meu recheio, escorrego de anseio e aí....Paro, respiro, abraço, grito, choro, sinto pena de mim. Depois disso, começo tudo de novo.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Um Ano


De fato o casco do acaso tocou-me.

Presenteei-me com a escolha de um filho. Claro! Nascido do Acaso. Tal acaso do amor.

Sem amargo no gosto da boca declaro-me feliz com as escolhas. Mesmo que as escolhas sejam um acaso.

Possuo um pequeno, tão pequeno, mas tão pouco frágil, abraça-me mesmo que eu não queira, me belisca, mesmo que eu sofra, choraminga mesmo quando nada quer.

Bobos aqueles que não querem bebês. Entendo as contas. Tenho todas numa gaveta lá em casa. Coloco etiquetas e tudo. Mas, fora as contas, tenho muitas coisas pra contar sobre ser mãe. É esquisito engravidar, mas é fato potente, muda tudo. É quase como se o mundo mudasse de cores. Não digo que as vezes não dê vontade de fugir e desistir. Tenho essa vontade o tempo todo, mas basta um olhar ( dele) especial que tudo em mim se rearranja , eu cresço, amadureço, viro gente. É isso, com ele sinto-me gente. Sinto-me humana. Sinto-me geradora de algo. Largo das bobagens infantis e tomo decisões. Depois percebo-me girando no chão com ele e brincando de emitir sons absurdos. Tudo tão bobo, tudo tão frágil, tão efêmero e mesmo assim ele gosta. Mesmo assim, ele sorri. Como dizer que não sou feliz? Que as contas se explodam, que os carros (batidos) saiam voando, que as responsabilidades virem fumaça, o que tenho me basta, e hoje eu e Luan comemoramos um ano de vida feliz. 03 de maio de 2007.

quarta-feira, 7 de março de 2007

O berçário

Inúmeras são as vezes que acometidos pelo acaso, nos rendemos.
inúmeras são as vezes que sugados pelo inexplicável sucumbimos: de medo, de frio, de fome, de saudade, de amor.
fui acometida pelo medo do berçário.
Quem chorou, fui eu.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Primeiro de fevereiro, o dia do dente

Despontou o dente, num dia quente. Tia Bel que percebeu. todo mundo foi olhar e ele logo mordeu. Primeiro de fevereiro, o dia que o dente nasceu.

Enrique, um anjo

Ele nasceu.Nasceu dormindo e permaneceu. Choro baixinho. Piscou um olho em agrado a mãe. Balançou o corpo pedindo silêncio. Apertou o dedo do pai. Um anjo nasceu. Piscou, sorriu e se foi. Enquanto dormíamos colocou suas asas e voou para o céu. e nós ficamos por aqui, olhando como bobos e chorando de saudades.